segunda-feira, 3 de novembro de 2014

NUNCA É TARDE PARA RECOMEÇAR...


Todas as coisas me são lícitas; mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma. - 1 Coríntios 6:12

Quando o homem perde o controle do seu corpo quem padece não é apenas a sua alma, mas tudo que está ao seu redor. Valdécio Rodrigues das Neves, 54 anos, viveu por muitos anos sob o domínio do vício no corpo e, por conseguinte, do vício em sua alma. Pelo álcool se divertia, mas também pelo álcool perdia tudo que tinha valor em sua vida, a começar pelo que lhe era mais caro: a sua família.
Homem simples, pai de um casal de filhos (ela, uma matemática; ele, aluno do fundamental), tinha terminado o ensino médio, em 2007, no Centro de Educação de Jovens e Adultos Professor Alfredo Simonetti. De lá para cá, embora a vontade fosse grande, o vício e as más companhias lhe impediam de dar continuidade ao seu sonho de ser, um dia, um homem do Direito.
Um dia, depois de se separar da sua mulher, ele acordou para o futuro. Repensou a sua vida, refletiu sobre as suas amizades, olhou para o horizonte e chegou à conclusão de que a ilusão de uma vida próspera, cheia de coisas boas, que o álcool lhe proporcionava, era somente enquanto estava sob o seu efeito. Depois que esse passava era preciso recomeçar tudo outra vez.
Desta forma, sabendo que o futuro passa, principalmente, pela determinação, pela força de vontade e pela compreensão e ajuda dos seus, ele tomou uma decisão: deixaria de beber. E assim o fez. Marcou uma data para isso: final do campeonato brasileiro de 2009. O seu time, o Flamengo, ia disputar o título. Seria, portanto, ganhando ou perdendo, que ele poria bebida em sua boca. O seu time venceu. Ele bebeu. Depois parou. O dia: 08/12/2009.
Durante o doloroso processo de abstinência, ele tentou o grupo dos Alcoólicos Anônimos por um tempo, mas viu que teria de ser mais radical se quisesse recuperar a dignidade, o respeito dos seus familiares e dos verdadeiros amigos. Desta forma, decidiu por se internar. O São Camilo foi a sua casa de recuperação.
Em seu depoimento, ele conta que a Clínica foi a sua grande aliada na luta contra o vício: “sem a ajuda de seus profissionais, eu não teria conseguido. Não é fácil. Só com muita força, determinação e fé é possível superar os traumas causados pela ação devastadora, no organismo, da bebida alcoólica”, disse ele ainda comovido depois de tantos anos.
Superado o problema com o álcool, recomeçar, retomar a sua vida era o passo seguinte. Para isso ele procurou alguém que lhe fizesse companhia e lhe ajudasse nos momentos de fraqueza. Achou. Depois disso ele exercitou a sua profissão primeira: torneiro mecânico.
O segundo passo foi uma tentativa de voltar a estudar. Para isso, em 2010, ele começou a ler, esporadicamente, alguns livros didáticos. Precisava se acostumar aos novos “vícios”, esses, sem sombra de dúvida, bem mais salutares que os anteriores.
Feito isso, em 2013, entrou para o Cursinho da 12ª DIRED. Normalmente, não poderia entrar (só frequentam o cursinho alunos oriundos das escolas públicas estaduais da circunscrição da 12ª DIRED e que estejam fazendo o último ano do ensino médio e, ainda, que tenham boas notas, ótimo comportamento, prezem pela assiduidade e desejem, de fato, superar todos os obstáculos que a concorrência lhes impõe na luta por uma colocação na Universidade), mas a diretora e a coordenadora do cursinho, sensibilizadas pela sua história de vida e superação, abriram uma exceção.

Fizeram bem. Ele se tornou um exemplo para os mais jovens e sua força e seu otimismo influenciam àqueles que estão desanimados. Na sala do cursinho, é conhecido por “tio”. O caminho percorrido, todos os sábados, é sempre o mesmo e sempre a pé: Barrocas II – ida e volta. A cabeça branca destoa das cabeleiras dos seus colegas de menos de 18 anos. Mas isso não é problema. Ele sabe que o conhecimento não tem prazo de validade e a idade para aprender não se limita aos anos de juventude. Porém, tem que estudar mais, querer mais, esforçar-se mais para conseguir. E ele quer.

Das lições aprendidas, uma lhe serve como um mantra e, invariavelmente, ele a repete: o álcool destrói a sua família, atrai falsas amizades e, no final, você acaba perdendo respeito, honra e dignidade.
Com relação ao cursinho, ele disse que o cursinho ajuda muito no reforço, que tem excelentes professores, material de primeira qualidade e o que lhe resta, de fato, é estudar.

Por fim, ele falou que o convívio entre os jovens do cursinho lhe trouxe motivação e esperança de que, agora no ENEM, ele finalmente consiga uma vaga para o tão sonhado curso de graduação: Direito.







Nenhum comentário: