sábado, 7 de setembro de 2013

EDUCAÇÃO DO CAMPO: AULAS DOS DIAS 05 e 06/09/2013


Quinta-feira, dia 05/09, os professores saíram de Mossoró/RN para a Serra do Mel/RN, para mais uma aula dos Saberes da Terra. Desta vez, quatro (Raimundo Antonio, Teresa Cristina, Antonia Farias e Elizângela Sales) dos cinco professores (Luzia Isabella em estado de gestação não estava se sentido bem e o médico recomendou-lhe repouso absoluto, conforme atestado), estavam a bordo do carro fretado que, comumente, leva-os, toda semana, ao município vizinho, distante pouco mais de 40 quilômetros da sede da 12ª DIRED (local de partida). 


Na Escola Estadual Padre José de Anchieta, na vila Rio Grande do Norte, os alunos dos Saberes da Terra (vindos das vilas Ceará, Paraíba, Garavela e Brasília) tomaram seus assentos e receberam aulas de Língua Portuguesa e noções básicas de Matemática, através de um texto voltado para a realidade de cada um deles, que falava sobre a desigualdade social e o dilema das famílias que sobrevivem com uma quantia inferior a R$ 100,00 (cem reais). 


Foram trabalhados os verbos, advérbios, ditados e, dentro da temática (sobreviver com apenas uma quantia irrisória) foi feita uma discussão de como transformar a quantia em alimentos e que esses dessem para o mês inteiro. Incluso no exercício de multiplicar o valor, os alunos passaram a escrever nomes e quantidades de alimentos, preços (inteiros e fracionados), porcentagens, multiplicação, divisão e soma. 

TEMPO COMUNIDADE

O dia de sexta-feira, dia 06/09, diferentemente do mesmo dia da semana passada (quando os professores se dirigiram para a vila Ceará), amanheceu sob um Sol causticante, abrasador. Os professores, motivados pela ótima experiência vivida na aula de campo, preparam-se para ir, desta vez, para a vila Paraíba. No local onde se contrata transportes alternativos para o município da Serra do Mel, o primeiro obstáculo: nenhum deles queria fretar o seu veículo para ir até a citada vila, alegando que não compensava o valor acrescido ao frete que é costumeiramente cobrado até a vila Rio Grande do Norte (distante – e mais perto de Mossoró – da vila Paraíba cerca de 12 quilômetros). 

Mas, em todo lugar existe aquele que se compadece e é mais sensível, e foi esse que perguntou se todos eram professores e se iam dar aulas na referida vila. Confirmado, ele se propôs a fazer a “corrida” (mediante um preço intermediário entre o que é cobrado e aquele que se julga o ideal) e, assim, os professores embarcaram em mais uma atividade voltada para tentar transformar realidades e, com isso, minimizar o impacto social na vida de cada um dos colonos do programa Saberes da Terra. 

Vista da primeira rua da vila Paraíba
Enquanto o carro percorria o trecho entre a vila Rio Grande do Norte e a vila Paraíba, o espetáculo da natureza se fez mais uma vez presente – para quem, costumeiramente, estava habituado às “benesses” que a cidade grande, cercada de concreto e formas desiguais, proporcionava a todos, trazendo uma cruel ilusão de que o mundo era daquele jeito e que a vida girava em torno da pressa, da agitação, do barulho e do estresse dos seus moradores – mostrando uma paisagem rodeada de verde, onde os pássaros e os animais soltos na natureza ainda são maioria e transitam, de um lado para o outro da estrada, como querendo dizer que ali ainda se vive em harmonia com o tempo de Deus. 

Vista da primeira rua da vila Paraíba: casas de Josefa, Fagna, Maria Diógenes e Elenilma
Na vila Paraíba, primeira rua (são quatro no total), vizinho a uma pequena oficina mecânica, a casa de uma aluna dos Saberes da Terra: Josefa. Os professores foram bem recebidos – por ela e o seu esposo. Casa simples, mas acolhedora, estava feito servidora para os seus visitantes. Na área, as cadeiras convidaram para uma boa prosa inicial. O Sol lá no alto já não estava tão abrasador naquele lugar. Pelo contrário, a brisa que soprava vinda do nascente trazia até pequenas lufadas de um friozinho gostoso de sentir e, com isso, tornar a conversa mais rendosa para as visitas e os nativos. 

Vista da primeira rua da vila Paraíba
E assim foi. Com a chegada de um dos moradores mais antigos do lugar, a conversa girou nos fatos históricos dos primeiros anos do município da Serra do Mel e da vila Paraíba. Os professores receberam uma aula de história contada pelo “seu Chico” – sanfoneiro das antigas, dono do time de futebol do local – que fez uma linha de tempo e prendeu a atenção de todos, principalmente, quando enveredou pelas dificuldades e pelos episódios curiosos dos primeiros colonos. 

Casa da aluna Josefa
Como de praxe, o cafezinho foi servido. Gente do interior, do sertão, ainda conserva a tradição de servir as visitas com a sua generosidade. Na mesa farta, os visitantes provaram do café coado no pano e do bolo feito sem a receita do instantâneo. 

A professora Elizângela com a aluna Josefa
Mas, ainda era preciso visitar outros alunos e presenciar, principalmente, as atividades geradoras de renda de cada um (objetivo maior elencado no projeto elaborado pelos professores e principal norteador da ida às comunidades), fato que foi presenciado duas casas mais à frente. Era a casa de Maria Diógenes, conhecida na vila, afetuosamente, por “Miminha”. 

Na foto, os alunos Anchieta (em pé, à esquerda), "Miminha" (sentada, à direita) e Fagna Carla (em pé, à direita). Completa a foto, o companheiro de trabalho de 'Miminha' e o filho do aluno Anchieta
Assim como na casa de Josefa, o ambiente acolhedor mostrava a receptividade dos seus moradores. Na mesa de trabalho – instalada no alpendre – “Miminha” trabalhava tirando as películas das castanhas. Trabalho artesanal, meticuloso, feito com habilidade, precisão e numa velocidade incrível (ver vídeo no final). Ajudando-a, mais uma aluna dos Saberes da Terra: Fagna Carla.

Os professores Teresa Cristina e Raimundo Antonio experimentando fazer o trabalho de seus alunos

Depois que os professores puderam ver, ouvir e anotar como era feito o processo da retirada das películas, já na companhia do aluno Anchieta, os professores foram visitar mais uma casa: a da aluna Elenilma (a alegria de apresentar a sua família, a casa de seus genitores, o local onde vive com o seu filho; enfim, antes das dificuldades o prazer de servir) que, por motivos de saúde não pode ter, como fonte de renda, o trabalho artesanal da cultura da castanha. 

Da esquerda para a direita: o aluno Anchieta, a professora Teresa, a aluna Elenilma e a professora Elizângela. O garoto da foto é o filho do aluno Anchieta
Descendo um pouco mais, os professores – levados pelo aluno Anchieta – foram visitar a casa deste. Embora não viva da cultura da castanha, o aluno Anchieta trabalha fazendo pequenos reparos (elétricos, hidráulicos, mecânicos), fabricando carroças, fabricando as pequenas ferramentas utilizadas na cultura da castanha, ou seja, o aluno é, ao mesmo tempo, um professor Pardal e um “marido de aluguel” para os moradores da vila. Mais uma vez os professores não escaparam da boa hospitalidade do seu morador: mesa farta com direito a fubá de castanha com rapadura raspada, bolo feito pela esposa do mesmo e um café gostoso de tomar! 

Casa do aluno Anchieta
O Sol, nesta hora, já estava querendo ir embora. Depois de mais dois dedos de prosa – na área da casa do aluno Anchieta – ainda havia mais três visitas a serem feitas. Prestativo, o aluno Anchieta acompanhou os professores. A próxima aluna era a Dulcicleide.Infelizmente, por motivos superiores, a mesma tinha se deslocado para a vila Rio Grande do Norte. Desta forma, a próxima parada foi na casa do casal de alunos Luciano / “Branca”. Ele trabalha como pedreiro. Inclusive, havia acabado de chegar da cidade Tibau – distante dali cerca de 80 quilômetros. Tinha ido fazer uma cisterna. O transporte? Uma moto de 100cc. Debaixo de um frondoso pé de caju, os professores aprenderam um pouco mais sobre o lugar, a sua diversidade, as técnicas quase primitivas de como conseguir o alimento (fojos) que a natureza proporciona sem ser necessário o gasto com os industrializados tão comuns aos nossos dias. 

"Terreiro" da casa dos alunos Luciano e "Branca"
Por fim, o último casal de alunos: Erismar/Welya. Último casal, última casa da rua. Já na saída de vir embora para a cidade grande. Mais aprendizagens para os professores. A aluna Welya, grávida de 9 meses, espera, para qualquer hora, o seu primeiro bebê (talvez quando essa matéria for postada, a sua filhinha já tenha nascido). A casa respira a chegada desse bebezinho. O quarto arrumado, as pecinhas de roupas todas em seus devidos lugares, o berçinho e a mala com o kit maternidade – à espera da hora – são motivos de orgulho para o mais novo anjo chamado mãe. Na mesa, primeiro, o cafezinho com tapioca do início da noite. Depois, quase em seguida, um jantar para os professores.

Da esquerda para a direita: Professoras Elizângela e Teresa e os alunos Erismar/Welya
Da esquerda para a direita: professores Elizângela e Raimundo Antonio e os alunos Erismar/Welya
A lição que se tira dessa visita é que o campo oferece o necessário para que os seus moradores vivam em paz e harmonia com o meio-ambiente. E é através do desenvolvimento sustentável e da qualificação de seus habitantes, que a sociedade urbana pode aprender que devagar se vai ao longe e que preservar o meio em que se vive é matéria básica para se evitar a destruição da natureza e retardar, ao máximo, a violência gerada pelo progresso descontrolado dos gananciosos. Os professores foram ensinar aos seus alunos e voltaram ensinados e seguros de que é preciso ter consciência de que a mãe natureza ainda continua sendo o equilíbrio para um mundo melhor.

 Abaixo, o vídeo sobre o "Tempo Comunidade" - vila Paraíba:


NOTA DA 12ª DIRED

Os professores pretendiam, como na semana que passou – quando voltaram à noite para dar aula na vila Rio Grande do Norte –, retornar no ônibus que leva os alunos das vilas Paraíba e Ceará, para a Escola Estadual Padre José de Anchieta, porém, por motivos de força maior (quebra de ônibus – segundo foi informado, depois, para os professores) os mesmos voltaram para a referida vila tendo que “fretar” um veículo. Com isso, os alunos dos Saberes da Terra e os alunos da EJA, de mais de 8 vilas, ficaram sem aula na noite de sexta-feira, dia 06.09. 

Os professores e os alunos dos Saberes da Terra perderam uma grande oportunidade de aprofundar o tema “comunidade”, haja vista, a proximidade do que foi observado, perguntado, discutido e orientado, durante a visita da tarde. 




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